sexta-feira, agosto 12, 2005

Clovis Tavares


CLÓVIS TAVARES
Flávio Mussa Tavares

"Nessas terras, para além dos grandes oceanos,
poderíeis instalar o pensamento cristão,
dentro das doutrinas do amor e da liberdade."
Humberto de Campos-
Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho

Nasceu em Campos dos Goytacazes, em 20 de janeiro de 1915, dia de São Sebastião, no distrito de São Sebastião. Como não poderia deixar de ser, seu nome que já estava escolhido ser "Clóvis" foi precedido de "Sebastião". Sebastião Clóvis Tavares, seu nome de batismo, embora sempre tenha sido tratado em casa e em todos os ambientes, por simplesmente "Clóvis".
Desde a mais remota infância, demonstrou pendores religiosos e era comum ver nas plagas de São Sebastião, seus irmãos jogando bola ou brincando de cabra cega e Clóvis lendo ou rezando em seu oratório particular.
Afeiçoou-se ao padre da Igreja de São Sebastião, chamado Émille Dés Touches, francês de nascimento, de família nobre e abastada. Ele teria abandonado a sua herança para dedicar-se a vida religiosa, tendo decidido vir para o Brasil seguindo uma inspiração ou determinação do alto. Foi o seu professor de Francês e seu primeiro orientador espiritual. Do Padre Émille Dés Touches, o público espírita conhece Petição de Servo, eivada de beleza e sabedoria espiritual.
Na adolescência, estudando no célebre Liceu de Humanidades de Campos, integrou um grupo de jovens idealistas que decidiram mudar o mundo. Inscreveram-se no Partido Comunista do Brasil e viveram um sonho de liberdade. Dois desses jovens eram Nina Arueira e Clóvis Tavares, que enamoraram-se e tornaram-se noivos. Os dois viviam intensamente a vida partidária, sendo líderes de greves operárias e movimentos estudantis. Inesperadamente, Nina é acometida de uma febre tifóide e Clóvis passa a fazer plantão ao seu lado, passando noites acordado, em vigilância, mas sem oração.
Por um destes mistérios da vida, ela conheceu, já doente, um homem chamado Virgílio de Paula, que recebeu-a em sua casa para prestar-lhe tratamento. Era um profundo conhecedor de Teosofia e Espiritismo. Ela interessa-se inicialmente pela Teosofia. Lê "Do Recinto Interno", de Annie Bésant e decide, já no leito a renunciar à política partidária. Conta a Clóvis a sua decisão. Este, que também estava a discordar da direção partidária quanto a rumos decididos que feriam a sua ética, passou a escutar de Nina, as lições que ela ouvia do Vovô Virgílio.
Virgílio de Paula, por sua vez, aos poucos introduziu um pouco de Evangelho em suas conversações com Nina. Ela maravilhou-se com a visão de um Jesus Cristo amigo dos pobres e dos sofredores. Um Jesus Cristo amigo da Justiça e da Caridade e entregou-se, alma inteira ao Evangelho, explicado pela racionalidade Espírita. Foram apenas alguns meses, mas ela desencarnou considerando-se espírita.
Após o seu desenlace é que Clóvis começou a ler os livros que ela lera no seu estágio derradeiro, e como ocorreu com Nina, ele também apaixonou-se pela cosmovisão espiritista. Quando leu pela primeira vez os versos de Olavo Bilac, Cruz e Souza, Fagundes Varella, Augusto dos Anjos, Castro Alves, João de Deus, Auta de Souza...então declarou-se espírita. E com o mesmo afinco que dedicara-se há apenas alguns meses à política partidária, passa a militar ativamente no meio espírita.
Começa a freqüentar o Grupo Espírita João Batista, onde eram dirigentes, o Sr. Virgílio de Paula e outros companheiros da primeira hora do Espiritismo em Campos. Em pouco tempo, Clóvis passa a realizar palestras doutrinárias que a muitos atraíram por sua fluência evangélica e pelo ardor de seu verbo.
Paralelamente a essas atividades, fundou uma escola de doutrina espírita para crianças, na casa da mãe de sua antiga noiva, a D. Didi Arueira. Passaram a chamar essa casa de "Escola Infantil Jesus Cristo".
Mais uma vez, o inesperado ocorre. Os freqüentadores do Grupo João Batista, somados aos pais das crianças da Escola Infantil, afluíram em número crescente para escutar suas palestras na casa de D. Didi. Decide então, a diretoria do Grupo Espírita João Batista, auto-dissolver-se e passar a integrar os quadros da nascente Escola Jesus Cristo, já sem o qualificativo de "Infantil". Repetiu-se em escala institucional o mesmo que acontecera entre João Batista e Jesus Cristo. È necessário que eu diminua para que ele cresça. E o Grupo precursor João Batista, dissolveu-se e seus seguidores, assim como os seguidores de João, passaram a seguir a Escola Jesus Cristo.
Iniciou-se uma Era nova para o Espiritismo local, até então conhecido pelas sessões mediúnicas. Com Clóvis, alvorece em 1935, o Espiritismo da Cultura e da prática da caridade. Clóvis sempre priorizou na Escola Jesus Cristo o serviço de amor ao próximo e o estudo doutrinário. A mediunidade ocupava, como o é até hoje, papel auxiliar. Sempre ensinou ele, aos que buscavam ajuda, que, em primeiro lugar, deviam se espiritualizar pelo estudo e pelo trabalho, para depois libertar-se das possíveis influenciações. E por quantas vezes a determinação do estudo e de um serviço altruísta dissiparam as atribulações psíquicas de seus tutelados espirituais. Dizia Papai que devemos respeitar sobremaneira o intercâmbio espiritual e jamais abusar desse meio tão dispendioso de energias psíquicas, se podemos por nossa própria motivação, mudar nosso padrão mental.
Fundou Clóvis na Escola Jesus Cristo, dois orfanatos: um de meninas, dirigido inicialmente pela filha do Virgílio Paula, a D. Inaiá de Paula e outro para meninos, dirigido por ele mesmo e por seu companheiro de ideais, Medeiros Correia Júnior, que mais tarde se tornaria Juiz de Direito em Cachoeiro do Itapemerim-ES. Fundou ainda um Culto de Assistência, onde um grupo de irmãos visitava duas favelas de Campos, para distribuição de gêneros e para a realização de um culto de Evangelho no lar dos assistidos.
Fundou ainda a Sopa dos Domingos com a ajuda dos irmãos portugueses Inocêncio Noronha, Bonifácio de Carvalho, D. Candinha e D. Mariquinhas. Portugueses que sempre estiveram presentes na história de nossa Escola Jesus Cristo.
Surge ainda, por seu ideário, o Curso Elzinha França, para orientação espiritual às crianças. A escolha do nome Elzinha França deveu-se ao fato de que a Mocidade Espírita de Campos, da qual fazia parte a minha mãe e sua amiga Zenith Pessanha, visitavam as famílias pobres da Escola Jesus Cristo, em busca do sofrimento e de um modo de mitigá-lo. Numa dessas peregrinações, na favela, encontram desvalida menina recém nascida, abandonada. Como não havia, na época, nenhum órgão oficial de amparo à criança e nem de longe pensava-se no Estatuto da Criança e do Adolescente, decidiram trazer a menina para a Casa da Criança. Apesar de meu Pai ter providenciado todos os cuidados médicos, a menor desencarnou em pouco tempo. Todavia, em uma de suas habituais viagens a Pedro Leopoldo, para encontrar-se com Chico Xavier, obteve a informação do médium que o visitava o espírito de uma professora de muita luz, chamada Elzinha França. Meu Pai, a princípio pasmo, contou ao médium quem era a menina, que identificou Chico com um espírito de uma professora que estava integrando a equipe espiritual de serviço na Escola Jesus Cristo e que trabalharia na educação dos menores.
Fundou o Clube da Fraternidade, espaço artístico e lúdico, para a realização de jogos infantis, teatros e coros musicais nos domingos à tarde, numa época em que não havia televisão.
Passou a visitar semanalmente os presos, recordando o ensino de Paulo aos hebreus: "Lembrai-vos dos encarcerados, como se vós mesmos estivésseis presos com eles. E dos maltratados, como se habitásseis no mesmo corpo com eles". (Hb.13,3).
Uma vez por ano, pregava o Evangelho Consolador no cemitério, no dia 2 de novembro, iniciando uma prática consoladora e esclarecedora na nossa terra.
Uma outra particularidade da Escola Jesus Cristo, foi abrigar em suas dependências na década de 60, uma escola de educação formal, na qual eu mesmo fiz a minha formação primária: o Instituto Allan Kardec.
Paralelamente a essa atividade espírita, meu Pai lecionava História em duas escolas e Direito Internacional Público, na Faculdade de Direito de Campos. Foi autor de livros espíritas, renunciando todavia aos Direitos Autorias, pois aprendeu com Chico Xavier a doá-los às Editoras as quais dedicavam-se à difusão doutrinária. Escreveu: Sementeira Cristã , Vida de Allan Kardec para a Infância, Meu Livrinho de Orações, Os Dez Mandamentos e Histórias que Jesus Contou, para o público infantil e Vida de Pietro Ubaldi, Trinta Anos com Chico Xavier, Amor e Sabedoria de Emmanuel, Tempo e Amor, De Jesus para os que Sofrem, Mediunidade dos Santos, para o público em geral.
Tornou-se amigo íntimo de Chico Xavier, com quem conviveu por 50 anos, o que é relatado nos referidos livros do parágrafo anterior.
Na década de 50, passou a se corresponder com o sábio italiano Pietro Ubaldi, a quem promoveu duas vindas ao Brasil, a última das quais, definitiva. Traduziu do italiano os seguintes livros do referido autor: As Noúres, Ascese Mística, Grandes Mensagens e Fragmentos de Pensamento e Paixão.
Meu Pai, só veio a casar-se após 20 anos do ocorrido com Nina, e minha Mãe, Hilda, que o ajudava na pesquisa sobre a vida dos santos católicos, passou a ser também a sua fiel colaboradora nos trabalhos da Escola Jesus Cristo. Ela fundou um coro infantil, uma livraria, escreveu e dirigiu dezenas de peças teatrais adaptadas de contos clássicos da literatura universal, como: O Pequeno Príncipe, de Exupéry; O Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon; O Pássaro Azul, de Mäeterlink; Fernão Capelo Gaivota., de Richard Bach e O Meu Cristo Partido, de Ramón Cué.
De seu casamento com Hilda, nascemos cinco filhos: Carlos Vítor, que desencarnou aos 17 anos, após uma vida de sofrimentos para ele e para os meus Pais, o que está relatado no livro: A Morte é Simples Mudança; Margarida, eu (Flávio), Luís Alberto e Celso Vicente.
Desencarnou Papai em 1984, no dia 13 de abril. Exatamente uma semana antes, nascia o meu primeiro filho e seu primeiro neto, o Pedro. Foi a semana de maior conteúdo emocional de minha vida. No dia 06 de abril, às 18 horas , eu me tornava pai. Pedro nasceu na Santa Casa de Campos, em parto realizado por minha prima Neusa, obstetra, que o entregou nas minhas mãos tão logo seccionou o cordão umbilical, para que eu providenciasse os primeiros cuidados. Sete dias após, no mesmo hospital e na mesma hora, meu Pai é internado, e na cama onde fez a radiografia abdominal, segurando as minhas mãos, ele desencarnou. Em uma semana nasceu meu filho e desencarnou meu Pai, no mesmo lugar, na mesma hora, ambos nas minhas mãos... Em apenas sete dias vivenciei intensamente a experiência de ser um ajudador de dois espíritos que atravessavam o Portal da Vida no sentido inverso: um se recorporificando na Terra...outro se despedindo deste mundo e reentrando na dimensão do Espírito.
A Saudade é o Metro do Amor é uma apresentação das seis comunicações mediúnicas do meu Pai, obtidas através do seu querido amigo Chico Xavier, com quem ele mantinha uma relação de amizade que não pode ser medida pelos padrões humanos. Ele nos dera, antes de desencarnar, uma senha. Somente se comunicaria, mediunicamente, através de Chico . Outras cartas, seriam apócrifas. Nós mantivemos nossa fidelidade à sua senha e ao nosso querido Chico e reconhecemos nestas cartas ora apresentadas e comentadas, a integridade de sua personalidade, pois têm as marcas indeléveis de sua racionalidade e de sua emotividade.
Estas cartas nos fazem reconstruir psiquicamente seu retrato!
E o leitor poderá comprovar o que afirmo aqui, ao conhecer o conteúdo das mesmas. Em breve, pretendemos publicar dois novos trabalhos: um com os escritos e palestras de meu Pai e outro com os escritos de Nina Arueira em vida e alguns psicografados pelo nosso Chico, quando o leitor poderá comparar os estilos literários de Clóvis e Nina, antes e depois da desencarnação. A título de comparar melhor seu estilo com as mensagens, o companheiro Eduardo Carvalho Monteiro, que tornou-se um sábio conselheiro, autorizou-me incluir no livro um texto de Clóvis Tavares em vida, que estará no capítulo final.
Os capítulos em itálico constituem as suas cartas espirituais e os outros são os comentários nossos, nos quais rogamos a Deus, nos permita traduzir ao público o alcance doutrinário de seus escritos. Clóvis foi um pioneiro em vida e mesmo após transpor este portal dimensional, continua surpreendendo a todos com a clareza espiritual com que nos apresenta a sua própria experiência da Grande Viagem.

Flávio Mussa Tavares
Campos, 27 de outubro de 2005
70 anos de fundação da Escola Jesus Cristo
70 anos da desencarnação de Nina Arueira
90 anos de nascimento e 21 da desencarnação de Clóvis Tavares
95 anos de nascimento de Francisco Cândido Xavier

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