sábado, março 04, 2006

NUNCA VI TAL FÉ - I ( A Fé Vacilante)

NUNCA VI TAL FÉ...

Conceituar "Fé" tem sido objeto de muitos estudiosos do Evangelho de Jesus. Pode-se considerá-la uma certeza íntima de algo que ainda não é real, ou seja, que ainda não existe. Assim, a criança pula do alto de um armário onde subiu, mas não sabe descer, nos braços de seu Pai, pois tem confiança antecipada na capacidade deste de segurá-la. Esta confiança da criança é natural, não é racionalizada, uma vez que ela não questionou a capacidade de sue Pai.
Partindo desse pressuposto, de que a Fé é um depósito de confiança na Providência de Deus, pode-se considerar algumas categorias de Fé. Jesus Cristo, algumas vezes referia-se a fé de alguém assim: "..nunca vi tamanha fé..." e de outras vezes : "...nuca vi Tal fé..." Esta Segunda exclamação de Jesus diz respeito à qualidade da fé observada.
É verdade que a Fé pode ser considerada quanto a sua intensidade, pois o próprio Cristo afirmou que se ela fosse comparada a uma semente faria prodígios. Todavia o que se vai considerar aqui é a categoria de fé nos exemplos de O Novo
Testamento.

A FÉ VACILANTE
O protagonista da Fé Vacilante será o Pai aflito na narrativa de Marcos, capítulo 9, versos 17 e seguintes:

"Respondeu um homem dentre a multidão: Mestre, eu te trouxe meu filho, que tem um espírito mudo. Este, onde quer que o apanhe, lança-o por terra e ele espuma, range os dentes e fica endurecido. Roguei a eus discípulos que o expelissem, mas não o puderam. Respondeu-lhes Jesus: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei de aturar? Trazei-mo cá! Eles lho trouxeram. Assim que o menino avistou Jesus, o espírito o agitou fortemente. Caiu por terra e revolvia-se espumando. Jesus perguntou ao pai: Há quanto tempo lhe acontece isto? Desde a infância, respondeu-lhe. E o tem lançado muitas vezes ao fogo e à água, para o matar. Se tu, porém, podes alguma coisa, ajuda-nos, compadece-te de nós! Disse-lhe Jesus: Se podes alguma coisa!... Tudo é possível ao que crê. Imediatamente exclamou o pai do menino: Creio! Vem em socorro à minha falta de fé! Vendo Jesus que o povo afluía, intimou o espírito imundo e disse-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai deste menino e não tornes a entrar nele. E, gritando e maltratando-o extremamente, saiu. O menino ficou como morto, de modo que muitos diziam: Morreu... Jesus, porém, tomando-o pela mão, ergueu-o e ele levantou-se. Depois de entrar em casa, os seus discípulos perguntaram-lhe em particular: Por que não pudemos nós expeli-lo? Ele disse-lhes: Esta espécie de demônios não se pode expulsar senão pela oração.

A Fé que vacila é depositada mas é tomada de volta pela inconstância. Diante do sofrimento do filho o pai parece buscar a confiança que precisa Ter para obter a cura do filho e diz a Jesus: "Se podes...", súplica essa que diante da reticência de Jesus, ele completa:

"Eu creio Senhor! Vem em socorro de minha falta de fé!"

Eu quero confiar antecipadamente, mas ajuda a minha insegurança, a minha dúvida, o meu medo...
Jesus então faz a anamnese médica:
Há quanto tempo isso lhe sucede? Esta é a pergunta certa que todo médico deve fazer ao se examinar um sintoma: o seu tempo de duração. Os detalhes são oferecidos pelo pai e Jesus lhe afirma que tudo é possível àquele que crê.
Até hoje, os que não vacilam diante das mais diversas situações na vida sabem: é possível lutar! É possível buscar meios, acreditar na cura, não desanimar, não desisitir. Qual é a saída? Remédios? Fisioterapia? Psicólogo? Quimioterapia? Vamos em frente!
como é o tratamento? Doloroso? Demorado? Por tentativas de erros? Existe esperança? Vamos lá! Essa é a resposta que Jesus continua dando e a nossa fé continua vacilando.
"Tudo é possível ao que crê!"
Cremos Senhor!Mas vem socorrer a nossa pouca Fé! Vem ajudar a nossa incredulidade! Vem fortalecer a nossa esperança, o nosso ânimo, a nossa coragem, a nossa constância...

É o estágio primitivo da Fé Humana.

Quer crer, quer confiar mas oscila entre o medo, a pusilanimidade e a coragem.

A necessidade de se crer nasce das provas aflitivas. Elas surgem providencialmente constrangendo-nos à Fé. São as mesmas aflições que podem nos fazer cair na dúvida, no desespero e no negativismo. São as aflições que podem tornar-se a armadilha que nos faz desistir. Como Pedro sobre as águas. Ele creu e andou sobre a superfície das águas em direção à Jesus, mas o vento forte lhe amedrontou e sua fé vacilou.

A Fé vacilante é uma forma de distimia bipolar. Quando está no polo positivo é forte e quer com todas as forças de sua alma, entretanto é tão frágil como entusiasmada e bruscamente cai no polo negativo do desencanto e da desolação.

Como não é possível viver nesta condição ciclotímica da fé, nessa angústia do existir, uma das possibilidades é encontrar um ponto de apoio. Este ponto de apoio é, via de regra, uma referência material ou pessoal.

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