sábado, março 04, 2006

NUNCA VI TAL FÉ - I V ( A Fé Operante)

A FÉ OPERANTE

O próximo teste para a Fé neste estágio é o teste da Humildade que a converte na Quarta categoria de Fé: A Fé Operante!

"E eis que uma cananéia, originária daquela terra, gritava: Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio. Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos vieram a ele e lhe disseram com insistência: Despede-a, ela nos persegue com seus gritos. Jesus respondeu-lhes: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Mas aquela mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: Senhor, ajuda-me! Jesus respondeu-lhe: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos... Disse-lhe, então, Jesus: Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas. E na mesma hora sua filha ficou curada." (Mt 15:22-29)

A terceira mensagem de meu irmão Carlos Vítor inserida no livro: "A Morte é Simples Mudança", nos diz de sua conquista da Humildade nos seguintes termos:

Papai querido sigamos...
Ontem púrpuras faustosas,
Espadas, festas e rosas
Que o tempo exibe em museus...
Hoje, é a trilha diferente
De culto ao Bem e à Verdade
Na conquista da Humildade,
A prenda maior com Deus.


Nos comentários desta e de outras poesias suas, fazemos uma avaliação do Curso de Humildade de que meu irmão nos fala e que é realizado por ele em três etapas. Na Erraticidade, na preparação pra a reencarnação. Durante a reencarnação e numa terceira etapa que continua mesmo após a desencarnação. Pelo menos foi a forma que Carlinhos escolheu para o seu Curso de Humildade.
A Humildade é uma senha espiritual que faz desenvolver a nossa Fé! Se já temos a felicidade de vivenciarmos uma Fé Racional, a Humildade facilmente abrirá os caminhos para a Fé Operante. Esta é natural, pode utilizar as elaborações da mente, mas as ultrapassa, pois os testes às quais é submetida não podem ser superados pelo simples uso da razão, mas sim pelo exercício da humildade.
A representante evangélica é a mulher siro-fenícia. Esta mulher é portadora de uma fé vigorosa. Não vacila, não está submetida a elementos materiais. Ela racionaliza, pois faz considerações a respeito do que Jesus lhe responde, mas a sua palavra é toda humildade. Não é uma argumentação lógica como a do Centurião, mas uma demonstração de humildade.
O que torna este caso particular é que esta é a única pessoa testada por Jesus. Ela procura Jesus na terra de Tiro, que estava em refúgio, desejou permanecer ali incógnito, mas ela O descobriu. Ansiava pela cura de sua filha obsidiada. Pede insistentemente a ponto de os discípulos, não entendendo a aparente indiferença de Jesus, pedirem por ela. O primeiro teste é que Jesus responde, dirigindo-se a seus discípulos e não à ela: Eu vim para os judeus e não para os cananeus. Ela, dirige-se então novamente a ele e suplica ajuda para sua filha. Desta vez Jesus dirige-se a ela, mas parece manter a sua postura aparentemente incompreensível: Não convém tirar o pão da boca dos filhos e jogá-los aos cachorrinhos. O teste foi duro. Mas a siro-fenícia venceu. Ela reconheceu que seu povo sendo idólatra não poderia receber as mesmas bênçãos destinadas a um povo que havia sido preparado para aquela visitação, mas rogou que pudesse, assim como os cães, aproveita-se dos restos, das sobras, das migalhas imprestáveis que caem ao chão. Pediu para aproveitar o que seria varrido para o lixo, demonstrando que as bênçãos divinas são tão pródigas que podem ser aproveitadas até mesmo nos farelos.

Recordo-me com muita tristeza de uma cena cotidiana de minha infância: crianças que quase diariamente batiam à nossa porta e pediam "uma sobra de comida ou um pão dormido". Eram pessoas massacradas pelo capitalismo impiedoso. Pedir sobras da mesa de alguém, rejeitos de comida do prato de uma pessoa, pães dormidos, duros, é pedir praticamente o lixo. E não é uma cena incomum ver pessoas revirando o lixo das mansões para ver se os abastados jogaram fora o que para eles é um banquete. É a humilhação vivida pelo filho pródigo. Comer do lixo.
Humilhação que nos ensina a Humildade. Poucos aprendem a verdadeira Humildade sem necessitar ser humilhados. As vidas sucessivas nos testarão com sucessivas decepções, abandonos, insucessos, desilusões e calibrarão a nossa taxa de humildade.
Dotados da racionalidade com fé, calibrados na humildade, nossa Fé será verdadeiramente operante, daquela que remove montes e mais montes.
Este teste não é um capricho divino, mas uma necessidade da alma.

Na questão 268 de "O Livro dos Espíritos" pergunta Kardec:
Até que chegue ao estado de pureza perfeita, tem o Espírito que passar constantemente por provas?

"Sim, mas que não são como o entendeis, pois que só considerais provas as tribulações materiais. Ora, havendo-se elevado a um certo grau, o Espírito, embora não seja ainda perfeito, já não tem que sofrer provas. Continua, porém, sujeito a deveres nada penosos, cuja satisfação lhe auxilia o aperfeiçoamento, mesmo que consistam apenas em auxiliar os outros a se aperfeiçoarem."


Isto significa que as provas tornam-se mais complexas de modo a buscar novos padrões emocionais para o espírito em constante evolução.
Dotados de racionalidade e temperando a Fé com a humildade, os testes nos parecerão mais fáceis de ser superados do que os que exigiam de nós o constante uso da inteligência. Um espírito de grande nobreza espiritual, mesmo nascendo sem cultura acadêmica, demonstrará sabedoria espiritual, por causa da maturidade que as vidas sucessivas lhe concederam. Um exemplo já conhecidíssimo é o de Chico Xavier, que, desprovido da cultura universitária, era dotado de uma sabedoria incomum. Seus conselhos eram seguidos por muita gente que em cinco minutos de uma breve consulta numa fila quilométrica resolviam questões profundíssimas, que anos de terapias poderiam não resolver.

Se a Razão é o tempero da Fé, a Humildade é o da Razão e a Fé nesta sua Quarta categoria traz na humildade testada pelos nossos amigos espirituais, aparentes adversidades no caminho.
É nesse ponto que a Fé opera, produz, transforma. Não somente a nós mesmos, mas também aos que nos cercam, pois os exemplos de Fé sustentam muitas vidas.
É dessa Fé que nos fala o apóstolo Thiago (Tg 2:18):

"Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras."

O que é absolutamente concordante com o que nos fala Paulo em I Cor 13:2
"Mesmo que eu tenha Fé a ponto de mover montanhas e não tiver Caridade, nada disso me valerá"

E também em Gal 5: 6 :

" Estar circuncidado ou incircunciso de nada vale em Cristo Jesus, mas sim a fé que opera pela caridade."

Eis o escopo de nossa Fé: a Fé Operante que promove a Caridade, condição sine qua non de nossa Salvação.

Nenhum comentário: