domingo, fevereiro 25, 2007

A prova dos transtornos compulsivos

Todos os espíritos tendem à perfeição, e Deus lhes proporcionaos meios de ocnseguí-la com as provas da vida corpórea. (Kardec, Livro dos Espíritos, comentário à resposta da questão 171.)

Uma excelente trilogia de mensagens psicografadas por Chico Xavier e comentários judiciosos de Herculano Pires, “o metro que melhor mediu Kardec”, no dizer de Emmanuel é : “Chico Xavier Pede Licença”,Na Era do Espírito” e “Astronautas do Além”. Ali se encontram questões diversas de temas palpitantes no meio espírita, encaminhadas ao médium para apreciação de seus mentores, renovando os esforços de Kardec na aquisição de respostas para o seu “Livro dos Espíritos”, cujo sesquicentenário celebramos este ano.

No primeiro volume citado, no capítulo 37, Emmanuel responde as dúvidas sobre as quedas morais dos espíritas. Os comentários na reunião em Uberaba, dos diversos confrades eram sobre o por quê do fracasso moral do médium, do divulgador espírita, do presidente de centro e após uma prece foi aberto o nosso livro básico na questão 171 que indaga sobre a reencarnação. A resposta dos espíritos foi: “Um pai sempre deixa aberta aos seus filhos a porta do arrependimento”.

Assinala então o nobre espírito Emmanuel uma série de situações em que somos abordados por nosso próprio conteúdo inconsciente que nos arrasta aos mesmos erros de outrora sob a tênue roupagem terrena. Diz o mentor de Chico Xavier: “...de novo ao plano físico a fim de operar a própria desvinculação de hábitos infelizes...”, empregando o termo desvincular para assinalar o quanto estamos ainda acrisolados em nossas próprias ciladas do pretérito. Retornamos à arena terrestre para nos desapegarmos de nossos hábitos viciosos. Esses hábitos figuram em nossa estrutura física e irrompem, via de regra, na adolescência, na forma de impulsos incontroláveis, sempre na busca de algo que para nós significa o máximo prazer. Gula, sensualidade, indolência e poder estão entre os tópicos de erros crassos de outras eras que foram catalogados por Tomás de Aquino como capitais, pois que, como erros básicos, induzem a outros tantos erros e vícios de caráter.

Continua Emmanuel: “...depois de algum trabalho em auto-educação, admite-se portador de imaginário cansaço e retorna aos costumes lastimáveis de outros tempos...”

Está bem clara a questão. Trata-se de auto-educação! Uma grande parte dos espíritos que fracassam na encarnação presente está em condições de lutar com alguma autonomia na própria regeneração. Esses espíritos, que somos nós mesmos, conscientes de nossa situação no planeta, espíritas que somos, estão carregando o fardo da maioridade espiritual. É a ocasião de demonstrarmos o que temos aprendido.

Vale também esclarecer a diferença entre expiação e prova, pois, no primeiro caso, apenas estamos mutilados física ou mentalmente, em repressão de nossas más tendências. Na Prova, libertos da algema cármica, somos reportados à própria consciência que, por vezes, funciona como uma panela de pressão. Essa analogia é-nos apresentada por Herculano Pires que compara essas tendências reprimidas de nossa alma encarnada à caldeira que necessita de uma válvula de humildade para suportar a pressão de nossos pensamentos viciosos.

Os manuais de classificação das doenças estão hoje repletos de Transtornos da Personalidade, desde as crianças com os seus déficits de atenção com hiperatividade ou impulsividade, até os adultos com os seus transtornos obsessivos compulsivos. O que há 30 anos era considerado peraltice de criança e mania de adulto, é hoje classificado internacionalmente como transtorno de humor e conduta, que deve ser abordado pelos especialistas com psicoterapia ou medicamento. Diz o sábio Herculano : “Se acrescentássemos às escolas de Psicoterapia de nossos dias a dimensão espírita(...) a causa dos desequilíbrios mentais e passionais tornar-se-ia mais acessível aos métodos de cura.”

Sim, por que uma psicoterapia baseada na evidência da reencarnação buscará para o paciente a solução de seu dilema existencial justamente no ponto em que precisa se transmutar espiritualmente. Ajudar um alcoólico, um jogador compulsivo, uma criança com rasgos de impulsividade destrutiva, uma mulher com hábitos sexuais impróprios para sua condição de mãe de família, uma senhora inclinada a comprar de modo incontrolável em ânsia consumista, um jovem aficionado no sexo de forma perturbadora, todos estarão seguramente melhor assistidos sob a esclarecedora visão da reencarnação.

Não me refiro aqui ás técnicas de revivescência de vidas passadas, conhecidas como TVP, uma vez que as mais notáveis autoridades espíritas têm-se reportado ao cuidado com técnicas invasivas aos nossos arquivos do passado. As indicações que temos, autorizadas pela égide da Universalidade do Ensino dos Espíritos, sugerem que nossas tendências indicam o nosso pretérito delituoso e nada mais é digno de investigação, que não seja o necessário para que vençamos as resistências de nossas provações.

Desse modo, a provação dos distúrbios do humor e da conduta, referidos na atualidade entre as mais complexas epidemias, é sensível a um tratamento espírita. Tratamento esse, que tem na Desobsessão um poderoso auxiliar, uma vez que vivemos em condomínio espiritual, como nos recorda Hermínio Miranda. Neste condomínio, nossos pensamentos estão em sintonia ora com espíritos sofredores, ora com esclarecidos. A simbiose psíquica que estabelecemos com os sofredores faz com que eles estejam, tanto quanto nós mesmos, necessitados de esclarecimento. Não é demasiado afirmar, porém, que o socorro espírita deve ser secundado pela ação esclarecedora do estudo espírita. Isso significa a freqüência a uma casa espírita com estudo sistematizado e palestras. Escutar o Evangelho e a Doutrina é também uma forma de assepsia psíquica. Por fim, necessitamos sempre da ação libertadora da caridade espírita, conscientes que somos da verdade límpida que transborda das inesquecíveis palavras do Espírito de Verdade: "Fora da Caridade Não Há Salvação!” E entendemos por "salvação" não um estado paradisíaco, mas uma oportunidade de reabilitação.

Flávio Mussa Tavares, médico

publicado na Revista Espírita de Campos, nº 81 - ano 23

fevereiro de 2007

flaviotav@gmail.com

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