sábado, março 24, 2007

O ÊXTASE



Que diferença há entre o êxtase e o sonambulismo?

O êxtase é um sonambulismo mais apurado. A alma do extático ainda é mais independente.

Livro dos Espíritos, questão 439

_É um assunto espírita esse? Você tem certeza? Parece-me um tanto místico! O Espiritismo não é uma ciência?

_Tanto é um tema espírita que é parte da Codificação. Veja a questão 439 e as seguintes, de que tratam elas?

_ È verdade, sempre achei que êxtase fosse algo místico!

_ E o que você tem contra o misticismo. Por acaso você é daqueles que confunde Misticismo com crendice ou mistificação?

_ E não é mesmo?

_Claro que não. Misticismo é uma forma muito evoluída de comunicação com as esferas superiores do pensamento divino. É a mais elevada forma de mediunidade que é conhecida pelo homem.

_Fale-me então:

Começarei pela análise de nossa Consciência. Nós temos uma consciência de superfície, que é o nosso pensamento, nosso entendimento e nossa vontade. E temos uma consciência profunda que determina atos de nosso corpo que acontecem independentemente de nossa vontade, como os movimentos intrínsecos de nosso órgãos no interior de nosso corpo. Essa nossa subconsciência é responsável também, por todos os nossos atos reflexos, que são aprendidos e integrados ao nosso automatismo. Aí estão as nossas rotinas e nossas principais reações aos diversos estímulos. Acham-se também aí registradas emoções que provém de um sentir íntimo muito profundo e que permanece na categoria de emoções básicas do ser humano, como medo, raiva, defesa, fome, preservação da espécie, busca do prazer e o seu inverso, a fuga da dor.

Há entretanto uma outra parte de nosso inconsciente que é formada por sentimentos e moções que não são básicos, mas que existem naturalmente em alguns seres humanos e que de acordo com alguns filósofos são o escopo da nossa natureza. São a solidariedade, a bondade, a humildade, o perdão, a fraternidade, o altruísmo, a concepção do belo, a busca da perfeição artística e científica, a espiritualidade, a busca do sagrado. Esse é o nosso Superconsciente.

Nascemos com o nosso subconsciente já talhado e forjado por várias experiências humanas através das vidas sucessivas. Temos um consciente aberto a novos aprendizados na terra. E um Superconsciente que funciona como elemento de ligação entre a nossa natureza e a divina. Através de nossas existências, os momentos de construção de nosso Superconsciente vão crescendo e tornando-se progressivamente mais marcantes em nossas vidas terrenas. Assim, seres primitivos são comandados em seu estado consciente, por sua instintividade residente no seu subconsciente. Seres humanos de média evolução ponderam e empregam o seu raciocínio lógico para formatar um novo grupo de ações que fará parte integrante de sue patrimônio psíquico. E os seres evoluídos, segundo o seu sentir, seu pensar e sua vontade que vêm da dimensão superconsciente de sua totalidade, conseguem superar a instintividade. Agem segundo padrões mais elevados da espécie humana, são notáveis por sua bondade, sua ética, sua autoridade moral. Em todos os séculos a nossa humanidade tem recebido alguns espíritos de escol que destacam-se dos demais, incentivando-os com os seus exemplos.

Esses espíritos que vivem num padrão mental mais elevado precisam receber das dimensões espirituais de onde vieram. Esses momentos são os chamados momentos de êxtase. Veja esta pergunta 440 O Livro dos Espíritos:

O Espírito do extático penetra realmente nos mundos superiores? "Vê esses mundos e compreende a felicidade dos que os habitam, donde lhe nasce o desejo de lá permanecer. Há, porém, mundos inacessíveis aos Espíritos que ainda não estão bastante purificados."

O Êxtase é um estado de arrebatamento espiritual íntimo que corresponde a um transe. Pode ser anímico, se auto-produzido ou mediúnico, se induzido por um espírito desencarnado. Ele difere do sonambulismo pela superioridade de suas manifestações. Enquanto o sonambulismo afeta as pessoas de um modo pouco produtivo espiritualmente, o êxtase vislumbra uma ultra-realidade a qual tem acesso por um momento e da qual o extático pretende trazer notícias ou revelações. É entretanto, da mesma maneira que o estado sonambúlico, um estado alterado de consciência, que se dá pela exteriorização do perispírito, isto é , uma experiência fora do corpo, OBE, em inglês.

É um estado de independência da alma com um progressivo e profundo aniquilamento do corpo, que desce ao nível de um metabolismo basal. Paralelamente a este momento de limiar da vida para o corpo, experimenta a alma uma leveza indescritível, uma paz inenarrável, uma emoção inefável, ausência de medo ou preocupações, ausência de qualquer dor, ansiedade, angústia, percepção de espaço ou tempo.

Exemplos de espíritos que atingiram momentos de êxtase são Paulo de Tarso, que foi arrebatado a região que denominou terceiro céu, e que podemos entender como uma ultra-dimensão da consciência, onde a paz e a liberdade de pensamento lhe conferiram uma provável vontade de lá permanecer.

"Importa que me glorie? Na verdade, não convém! Passarei, entretanto, às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos foi arrebatado até o terceiro céu. Se foi no corpo, não sei. Se fora do corpo, também não sei; Deus o sabe.

E sei que esse homem - se no corpo ou se fora do corpo, não sei; Deus o sabe - foi arrebatado ao paraíso e lá ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir." II Cor 12:1-4

E foi assim, que ele só retornou à nossa dimensão da realidade, sentindo a pressão da dor física, dor essa que ele no sétimo versículo do mesmo capítulo acima, define como um bofetão do mal. "

"Demais, para que a grandeza das revelações não me levasse ao orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás para me esbofetear e me livrar do perigo da vaidade.

Paulo, o grande apóstolo dos Gentios, temeu a possibilidade de que a exaltação da glória do arrebatamento psíquico lhe levasse a uma queda moral.

Outros exemplos, podemos citar de Mediunidade dos Santos, de Clóvis Tavares, que descreve os êxtases de S. Teresa d´Avilla, de S. João da Cruz, de S. Pedro de Alcântara, de Dom Bosco, S. Francisco e outros.

Há que citar também as personalidades do século XX que não foram espíritas, mas que divisaram através de mediunidades próprias, êxtases místicos com revelações sempre renovadoras para nossas almas. Foram Edgar Cayce, nos Estados Unidos e Pietro Ubaldi, na Itália e no Brasil Este último, explica no formidável As Noúres, a técnica de sintonia com a correntes de pensamento situadas nas regiões que ele denominou ultrafânicas.

Kardec nos informa que o extático corre riscos.

Se se deixasse o extático entregue a si mesmo, poderia sua alma abandonar definitivamente o corpo?

"Perfeitamente, poderia morrer. Por isso é que preciso se torna chamá-lo a voltar, apelando para tudo o que o prende a este mundo, fazendo-lhe sobretudo compreender que a maneira mais certa de não ficar lá, onde vê que seria feliz, consistiria em partir a cadeia que o tem preso ao

planeta terreno." L.E. 442

A condição espiritual é periclitante. Encontra-se numa faixa de vibração muito próxima da libertação total da alma e a sensação é prazerosa. é sensação de total mergulho na paz, o que os orientais denominam Samadhi.

Ademais do risco de vida, o extático corre o risco da fascinação, pois o seu retorno à nossa realidade física pode ser transtornado por espíritos obsessores que visam produzir ruído espiritual enganoso na revelação.

Pretendendo que lhe é dado ver coisas que evidentemente são produto de uma imaginação que as crenças e prejuízos terrestres impressionaram, não será justo concluir-se que nem tudo o que o extático vê é real?

"O que o extático vê é real para ele. Mas, como seu Espírito se conserva sempre debaixo da influência das idéias terrenas, pode acontecer que veja a seu modo, ou melhor, que exprima o que vê numa linguagem moldada pelos preconceitos e idéias de que se acha imbuído, ou, então, pelos

vossos preconceitos e idéias, a fim de ser mais bem compreendido. Neste sentido, principalmente, é que lhe sucede errar." LE 443

Que confiança se pode depositar nas revelações dos extáticos?

"O extático está sujeito a enganar-se muito freqüentemente, sobretudo quando pretende penetrar no que deva continuar a ser mistério para o homem, porque, então, se deixa levar pela corrente das suas próprias idéias, ou se torna joguete de Espíritos mistificadores, que se aproveitam da sua exaltação para fasciná-lo." LE 444

Assim, o fenômeno do Êxtase é um dos mais complexos já produzidos na fenomenologia psíquica e que é próprio de almas sensibilizadas pelo sofrimento, pelo amor e curtidas com muita humildade e coragem.

CONCURSO LÍTERO-MUSICAL SOBRE "O LIVRO DOS ESPÍRITOS"

A Escola Jesus Cristo – Instituição Espírita de Cultura e Caridade convida a todos os seus freqüentadores para participar do CONCURSO LÍTERO-MUSICAL que será realizado em homenagem ao sesquicententário de O Livro dos Espíritos.

Tema: "O Livro dos Espíritos: 150 anos na edificação de um mundo melhor”

Categoria 1 – Poesia: Poemas apresentados em documento digitado em papel A4 e entregues em envelope lacrado.

Categoria 2 – Música: Canções apresentadas em fita K7 ou CD (compact disc) com as respectivas letras musicais digitadas em papel A4 e entregues em envelopes lacrados.

Obs.: 1 - As produções de ambas as categorias poderão ser enviadas pelo correio para ESCOLA JESUS CRISTO. Rua dos Goytacazes, 177 . CEP: 28.013-266 Campos-RJ ou pela internet para :

escolajesuscristo@uol.com.br.

2 – Como autores das obras, deverão constar pseudônimos, sendo que, dentro dos envelopes, será necessária a inclusão de outro envelope lacrado, com o verdadeiro nome do autor. No caso do envio pela internet, dois arquivos atachados, um com a poesia com um pseudônimo e outro com o verdadeiro nome.

A entrega deverá ser feita até o dia 27 de maio de 2007. Os trabalhos serão julgados por uma comissão composta de cinco elementos, e os três primeiros colocados de cada categoria receberão como prêmio um exemplar de O Livro dos Espíritos em edição comemorativa da FEB.

A apresentação dos trabalhos e premiação dos vencedores ocorrerá no dia 17 de junho de 2007, às 19h no Teatro Casimiro Cunha. Participe!

sábado, março 17, 2007

O PRINCÍPIO 90/10

Um Princípio é algo que é observado na natureza e que é transmitido na forma de uma hipótese, uma teoria.
É preciso que muitas pessoas o experimentem, que realizem testes e que comprovem para si mesmos os resultados.
Isso dá ao experimentador a certeza íntima de que o princípio é verdadeiro, que está submetido à uma Lei geral, como a gravidade, por exemplo.
Vale a pena tentarmos aplicá-la e passarmos adiante!
Que princípio é este?Através deste argumento , dez por cento de nossa vida está relacionadacom o que se passa conosco, isto é com os acontecimentos involuntários, imprevisíveis, imponderáveis.
Os outros noventa por cento dependem da forma pela qual reagimos ao que se passa conosco.
O que isto quer dizer? Realmente, nós não temos controle sobre 10% do que nos sucede.
Não podemos evitar que o carro enguice, que o avião atrase, que o sinal fique vermelho, que uma doença crônica comece a se desenvolver, reduzindo a nossa liberdade de movimento...
Mas, somos nós quem determinareos oss 90% restantes de nossa vida. Como?
Com a nossa reação. Ela sim, abrirá muitas possibilidades de fatos novos.
Um exemplo corriqueiro na vida de um executivo, de 35 anos, que mora no Rio de Janeiro.
Ele está tomando o café da manhã com sua família. Sua filha, adolescente, ao pegar a xícara, deixa o café cair na sua camisa branca de trabalho. Ele não tem controle sobre isto.
Não pode evitá-lo. São os 10 por cento imprevisíveis.
O que acontecerá em seguida será determinado pela reação de um homem de classe média, sensato, razoável em suas ações programadas, mas que pode ter em um instante, uma reação rápida e impensada.
Isto são os 90 por cento evitáveis. Então, o executivo se irrita. Repreende severamente sua filha e ela começa a chorar. Ele censuara também a esposa por ter colocado a xícara muito na beira da mesa...E acontece, a paritr dali uma verdadeira batalha verbal. Contrariado e resmungando, o homem vai mudar de camisa. Quando volta, encontra sua filha chorando mais ainda e ela acaba perdendo a van que a levaria para a escola. A esposa vai pro trabalho, também aborrecida, pois acha que a reação do marido foi desproporcional.

Ele, então, tem de levar a menina de carro para a escola. Como está atrasado, dirige em alta velocidade e é multado. Depois de 15 minutos de carro parado, uma discussão com o guarda de trânsito e uma multa, os dois chegam à escola, onde a filha entra, sem se despedir de pai.
Ao chegar atrasado ao escritório, o executivo percebe que esqueceu de sua maleta.

Um dia daqueles? Lei de Murphy? Seu dia começou mal e parece que ficará pior.

Você fica ansioso pro dia acabar, as horas se arrastam, toma café, o estômago dói. Às 19 horas, após um trânsito horrível, o homem chega em casa. No meio to tumulto, os problemas do dia, o incidente da manhã já está, para ele, quase esquecido. Entra, querendo descanso, mas sua esposa e sua filha estão sérias, em silêncio e frias com ele. Que fazer?
Ele pára e pensa: Por quê?
Por causa de sua reação ao acontecido no café da manhã.
Pensa então : por quê seu dia foi péssimo?
A) por causa do café?
B) por causa de sua filha?
C) por causa de sua esposa?
D) por causa da multa de trânsito?
E) por sua própria causa?
Conclui que a resposta correta é a E.

O executivo, bancário, corretor, administrador, gerente, não teve como evitar o derramamento do café na sua camisa (10%), mas o modo como ele reagiu naqueles 5 minutos após ter-se levantado naquela manhã foi o que deixou seu dia ruim (90%).
Há outra possibilidade:O café cai na camisa daquele pai de família. Sua filha começa a chorar. Então, gentilmente ele diz a ela:

" Filha, não tem importância. Papai não se queimou e pode trocar a camisa, está bem? Mas vamos combinar todos de ter mais cuidado, ok?"

Depois de pegar outra camisa e a pasta executiva, o pai volta, olha pela janela e vê sua filha pegando a van escolar. Dá um sorriso e ela retribui, acenando com a mãozinha.Que diferença! Duas situações iguais, que terminam muito diferente.
Por quê? Porque os outros 90% são determinados por nossa reação.

Aqui temos um exemplo de como aplicar o Princípio 90/10.

Se alguém nos diz algo negativo, não levemos tão a sério. Não deixemos que os comentários negativos nos afetem tanto. Não sejamos joguetes do que chamamos destino. O nosso futuro próximo, o decorrer de um simples dia, pode ser muito diferente se cultivarmos a tranqüilidade, a oração da manhã, a paz...

Nossa primeira reação será refletida em todo o nosso dia. Como reagir a alguém que nos atrapalha no trânsito? Ficaremos transtornados? Por que? Pela pressa? E o resto do dia? Nossa saúde e a de nossa família não valem mais que quinze minutos? Golpear o volante? Xingar? Aumentar as batidas do coração e a pressão subir? O que aconteceria se o executivo perdesse o emprego? Por quê perder o sono e ficar tão chateado? Isto não funcionará.

Usemos a energia da preocupação para refazer o nosso Curriculum e encontrar um outro emprego, sem auto-piedade.

O mundo não espera nossa aflição passar para continuar girando.

Se nosso vôo ou o nosso ônibus está atrasado, se vai atrapalhar a nossa programação do dia, por quê manifestar frustração com o funcionário da companhia? Ele não pode fazer nada.

Usemos então o tempo para ler, fazer contatos, conhecer os outros passageiros. Estressar-se, entrar em "função turbo" no coração, só pode agravar os acontecimentos.

Conhecendo o Princípio 90/10, utilizemo-lo!

Ele nos surpreenderá com os resultados e nós certamente não nos se arrependeremos de empregá-lo, como se estivéssemos num jogo. Num grande show, num big reality-show da vida. Será até divertido. Às vezes riremos à toa e as pessoas nem entenderão por que estaremos rindo diante de um aparente revés da vida.

Milhares de pessoas estão sofrendo de um estresse, uma pressa, uma luta, uma fuga, ma tensão, que não tem sentido. São sofrimentos antecipados, problemas que ainda estariam por vir, dores de cabeça a respeito de possibilidades ainda não ocorridas, tudo fruto de um pessimismo moderno, espalhado sabe-se lá por quem.

Todos devemos conhecer e praticar o Princípio 90/10.

Pode mudar a nossa vida!!

domingo, março 11, 2007

Expoentes do Espiritismo- Irma de Castro Rocha (Meimei)

O Espírita Mineiro – janeiro/fevereiro – 2007

Órgão da União Espírita Mineira

Irma de Castro Rocha, este encantador espírito, ficou conhecida na família espírita como Meimei.

Trata-se de carinhosa expressão familiar adotada pelo casal Arnaldo Rocha1[1] e Irma de Castro Rocha, a partir da leitura que fizeram do livro Momentos em Pequim, do filósofo chinês Lyn Yutang. Ao final do livro, no glossário, encontram o significado da palavra Meimei – “a noiva bem-amada”. Este apelido ficara em segredo entre o casal. Depois de desencarnada, Irma passa a tratar o seu ex-consorte por “Meu Meimei”. Irma de Castro Rocha não foi espírita na acepção da palavra, pois foi criada na Religião Católica. Ela o era, porém, pela prática de alguns princípios da Doutrina Codificada por Allan Kardec, tais como caridade, benevolência, mediunidade (apesar de empírica), além de uma conduta moral ilibada.

Nasceu na cidade de Mateus Leme, Minas Gerais, a 22 de outubro de 1922 e desencarnou em Belo Horizonte, em 1º de outubro de 1946. Filha de Adolfo Castro e Mariana Castro, teve quatro irmãos: Carmem, Ruth, Danilo e Alaíde. Aos dois anos de idade sua família transferiu-se para Itaúna – MG. Aos cinco anos ficou órfã de pai. Desde cedo se sobressaiu entre os irmãos por ser uma criança diferente, de beleza e inteligência notáveis. Cursou até o segundo ano normal, sendo destacada aluna.

A infância de Meimei foi a de uma criança pobre. Era extremamente modesta e de espírito elevado. Pura e simples. Adorava crianças e tinha um forte desejo – o de ser mãe, não concretizado porque o casamento durou apenas dois anos e houve o agravamento da moléstia de que era portadora: nefrite crônica, acompanhada de pressão alta e necrose nos rins.

Irma de Castro, na flor de seus 17 anos, tornou-se uma bela morena clara, alta, cabelos negros, ondulados e compridos, grandes olhos negros bastante expressivos e vivazes. Foi nessa época que se tornou grande amiga de Arnaldo Rocha, que viria a ser o seu esposo.

Casaram-se na igreja de São José, matriz de Belo Horizonte. Na saída da igreja, o casal e os convidados viveram uma cena inesquecível. Depararam-se com um mendigo, arrastando-se pelo chão, de forma chocante, sujo, maltrapilho e malcheiroso. Meimei, inesperadamente, volta-se para o andarilho e, sensibilizada pela sua condição, inclina-se, entrega-lhe o buquê, beijando-lhe a testa. Os olhos da noiva ficaram marejados de lágrimas...

Arnaldo Rocha afirma que toda criança que passava por Meimei recebia o cumprimento: “Deus te abençoe”. Havia um filho imaginário. Acontecia vez por outra de Arnaldo chegar do trabalho, sentar-se ao lado de Meimei e ouvir dela a seguinte frase: “Meu bem, você está sentado em cima de meu principezinho”. Meimei tinha a mediunidade muito aflorada, o que, para seu marido, à época, tratava-se de disfunção psíquica. Estes pontos na vida de Meimei retratam os compromissos adquiridos em existência anterior, na corte de Felipe II, ao lado do marido Fernando Álvares de Toledo – o Duque de Alba (Arnaldo Rocha). Nessa época seu nome teria sido Maria Henríquez.

Apesar do pouco tempo de casados, o casal foi muito feliz. Ela tinha muito ciúme do seu “cigano”. Arnaldo Rocha explica que esse cuidado por parte dela era devido ao passado complicado do marido. Chico Xavier explicara que Meimei vinha auxiliando Arnaldo Rocha na caminhada evolutiva há muitos séculos, por isso a sua acuidade em adocicar os momentos mais difíceis e alegrar ainda mais os instantes de ventura.

Na noite da sua desencarnação, Arnaldo Rocha acorda, por volta de duas horas da madrugada, com sua princesa rasgando a camisola e vomitando sangue, devido a um edema agudo de pulmão. O marido sai desesperado em busca de médico, pois não tinham telefone. Ao voltar, encontra-a morta.

A amizade entre o casal, projetando juras de eterno amor, teve início por volta do século VIII a.C. Um general do império Assírio e Babilônico, de nome Beb Alib, ficou conhecendo Mabi, bela princesa, salvando-a da perseguição de um leão faminto. Foi Meimei quem relatou a história, confirmada depois por Chico Xavier e traduzida inconscientemente pelo escritor e ex-presidente da União Espírita Mineira, Camilo Rodrigues Chaves, no livro Semíramis, romance histórico publicado pela editora LAKE, de São Paulo.

Essas reminiscências de Meimei eram tão comuns que, além desse fato contido no livro citado, há, também, uma referência à personagem Blandina (Meimei), no livro Ave, Cristo! Aconteceu da seguinte forma: Chico passou um determinado capítulo do livro para Arnaldo Rocha avaliar. À medida que lia, lágrimas escorriam por suas faces, aos borbotões. Ao final da leitura, Arnaldo disse para Chico: “Já conheço esse trecho!” Chico arrematou: “Meimei lhe contou, né?” Nesse romance de Emmanuel, Blandina teria sido filha de Taciano Varro (Arnaldo Rocha), definindo a necessidade do reencontro de corações com vista à evolução espiritual.

Através da mediunidade de Chico Xavier, muitas outras informações chegaram ao coração de Arnaldo sobre a trajetória espiritual de Meimei. À guisa de aprendizado, Arnaldo foi anotando essas informações e trabalhando, em foro de imortalidade, aspectos de seu burilamento.

Meimei tinha a mediunidade clarividente, conversava com os espíritos e relembrava cenas do passado. Era comum ver Meimei, por exemplo, lendo um livro e, de repente, ficar com o olhar perdido no tempo. Nesses instantes, Arnaldo olhava de soslaio e pensava: “Está delirando”. Algumas vezes ela afirmava: “Naldinho, vejo cenas, e nós estamos dentro delas; aconteceu em determinada época na cidade...”. Arnaldo, à época materialista, não sabendo como lidar com esses assuntos, cortava o diálogo, afirmando: “Deixa isso de lado, pois quem morre deixa de existir”.

Em seus últimos dias terrenos, nos momentos de ternura entre o casal apaixonado, apesar do sofrimento decorrente da doença, Meimei tratava Arnaldo como “Sr. Duque” e pedia que ele a chamasse de “minha Pilarzinha”. Achando curioso o pedido, Arnaldo perguntou o motivo e recebeu uma resposta que, para ele, era mais uma de suas fantasias: “Naldinho, esse era o modo de tratamento de um casal que viveu na Espanha no século XVI. O esposo chamava-se Duque de Alba e a sua esposa, Maria Henríquez”. Embevecido com a mente criativa na arte de teatralizar da querida esposa, entrava na brincadeira deixando de lado as excessivas perquirições.

Apresentamos esse ângulo da vida de Meimei para suscitar reflexões acerca do progresso espiritual por ela engendrado em suas diversas reencarnações – das quais citamos apenas algumas –, e que conduziram nossa querida amiga Meimei ao belo trabalho realizado em prol da divulgação da Doutrina Espírita, no Mundo Espiritual, aproveitando as vinculações afetivas com aqueles corações que permaneceram no plano terreno.

Em seus derradeiros dias de vida terrena, Meimei começou a ter visões. Ela falava da avó Mariana, que vinha visitá-la e que em breve iria levá-la para viajar pela Alba dos céus. Depois de muitos anos veio a confirmação através de Chico Xavier. Arnaldo recebe do médium amigo, em primeira mão, o livro Entre a Terra e o Céu, ditado por André Luiz, no qual encontra uma trabalhadora do Mundo Espiritual – Blandina – vivendo no Lar da Bênção, junto com sua Vovó Mariana, cuidando de crianças. Em determinado trecho, Blandina revela um pouco da sua vida terrena junto ao consorte amado.

Arnaldo Rocha narra um fato muito importante no redirecionamento de sua vida. No romance “Ave, Cristo!”, que se desenvolve na antiga Gália Lugdunense, encontra-se um diálogo entre os personagens Taciano Varro (Arnaldo Rocha) e Lívia (Chico Xavier), no qual as notas do Evangelho sublimam as aspirações humanas. Lívia consola Taciano, afirmando que “no futuro encontrar-nos-emos em Blandina”. Essa profecia realizou-se mais ou menos 1600 anos depois, na Avenida Santos Dumont, em Belo Horizonte, no encontro “casual” entre Arnaldo Rocha e Chico Xavier, após o qual Arnaldo Rocha, materialista convicto, deixa cair as escamas que lhe toldavam a visão espiritual.

Graças à amizade fraterna entre Arnaldo Rocha e Francisco Cândido Xavier, reconstituída pelo encontro “acidental” na Av. Santos Dumont, a história de amor entre Meimei e Arnaldo manteve-se como farol a iluminar a vida dele, agora em bases do Evangelho, que é o roteiro revelador do Amor Eterno.

Depois daquele encontro, que marcou o cumprimento da profecia de Lívia e Taciano Varro, Arnaldo, o jovem incauto e materialista, recebeu consolo para suas dores; presentes do céu foram materializados para dirimir sua solidão; pelas evidências do sobrenatural, incentivos nasceram para o estudo da Doutrina Espírita, surgindo, por conseqüência, novos amigos que indicaram ao jovem viúvo um caminho diferente das conquistas na Terra.

Passando a viajar permanentemente a Pedro Leopoldo, berço da simplicidade da família Xavier, recebeu de Meimei, sua querida esposa, as mais belas missivas através da psicografia e da clarividência de Chico Xavier.

Faltam-nos palavras para expressar nossa ternura e respeito ao espírito Meimei que, por mais de seis décadas, tem inspirado os espíritas a seguir o Caminho, e a Verdade e a Vida Eterna.

Ao finalizar este singelo preito de gratidão a Irma de Castro Rocha, a doce Meimei das criancinhas, lembramos o pensamento do Benfeitor Emmanuel, que sintetiza a amizade dos trabalhadores do Espiritismo Evangélico em todo o Brasil com o Espírito Meimei: um verdadeiro “sol que ilumina os tristes na senda da dor. Meimei, amor...”.

Carlos Alberto Braga Costa



[1] Arnaldo Rocha, ex-consorte de Meimei, é trabalhador e conselheiro da União Espírita Mineira desde 1946. Amigo inseparável de Chico Xavier. Organizador dos livros Instruções Psicofônicas e Vozes do Grande Além, FEB. Co-autor do livro “Chico, Diálogos e Recordações”, UEM.

segunda-feira, março 05, 2007

ENTREVISTANDO ALLAN KARDEC

Mundo EspíritaÉ sabido que foi através de seu amigo, Sr. Fortier, que o senhor ouviu falar pelas primeiras vezes nos fenômenos das mesas girantes, e também se sabe que nessas ocasiões o assunto não lhe despertou maior interesse. Em que momento isso aconteceu de fato?
Allan Kardec – Pelo mês de maio de 1855, fui à casa da sonâmbula Sra. Roger, em companhia do Sr. Fortier, seu magnetizador. Lá encontrei o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, que daqueles fenômenos me falaram no sentido em que o Sr. Carlotti já se pronunciara, mas em tom muito diverso. O Sr. Pâtier era funcionário público, de certa idade, muito instruído, de caráter grave, frio e calmo; sua linguagem pausada, isenta de entusiasmo, produziu em mim viva impressão e, quando me convidou a assistir às experiências que se realizavam em casa da Sra. Plainemaison, à rua Grange-Batelière, 18, aceitei imediatamente.

Mundo Espírita – E quando se deu essa sua primeira reunião?
Allan Kardec – A reunião foi marcada para uma terça-feira de maio às oito horas da noite.

Mundo espírita. E por que essa reunião mereceu seu destaque no exame dos fenômenos das mesas girantes e na história do Espiritismo?
Allan Kardec– Foi aí que pela primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam, em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida. Minhas idéias estavam longe de precisar-se, mas havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo.

Mundo Espírita – Outras ocasiões importantes se somaram a essa?
Allan Kardec– Bem depressa, ocasião se me ofereceu de observar mais atentamente os fatos, como ainda o não fizera. Numa das reuniões da Sra. Plainemaison, travei conhecimento com a família Baudin, que resi-dia então à rua Rochechouart. O Sr. Baudin me con-vidou para assistir às sessões hebdomadárias que se realizavam em sua casa e às quais me tornei desde logo muito assíduo.

Mundo Espírita – Quem eram os médiuns nessas reuniões?
Allan Kardec – Os médiuns eram as duas senhoritas Baudin. Aí tive ensejo de ver comunicações contínuas e respostas a perguntas formuladas, algumas vezes, até, a perguntas mentais, que acusavam, de modo evidente, a intervenção de uma inteligência estranha.

Mundo Espírita – Quando começou seus estudos de Espiritismo e qual método utilizou para esses estudos?
Allan Kardec – Foi nessas reuniões que comecei os meus estudos sérios de Espiritismo, menos, ainda, por meio de revelações, do que de observações. Apliquei a essa nova ciência, como o fizera até então, o método experimental; nunca elaborei teorias preconcebidas; observava cuidadosamente, comparava, deduzia conseqüências; dos efeitos procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia todas as dificuldades da questão.

Mundo Espírita – Os ensinos dos espíritos, individualmente, têm o caráter de verdade?
Allan Kardec – Estamos longe de aceitar como verdades irrecusáveis tudo quanto ensinam individualmente; um princípio, seja qual for, para nós só adquire autenticidade pela universalidade do ensinamento, isto é, por instruções idênticas, dadas em todos os lugares, por médiuns estranhos uns aos outros.

Mundo Espírita – E como o senhor tem acesso a esse conjunto de informações que lhe permitem tal análise e com tais critérios?
Allan Kardec– Em nossa posição, recebendo comunicações de cerca de mil centros espíritas sérios, disseminados em diversos pontos do globo, estamos em condições de ver os princípios, sobre os quais houve concordância. Sem essa concordância, quem poderia estar seguro de ter a verdade? É, aliás, um dos caracteres distintivos da revelação nova o de ser feita em toda parte ao mesmo tempo.

Mundo Espírita – Os textos que constituem O Livro dos Espíritos, como foram obtidos?
Allan Kardec– Tudo foi obtido pela escrita, por intermédio de diversos médiuns psicógrafos. Nós mesmos preparamos as perguntas e coordenamos o conjunto da obra; as respostas são, textualmente, as que nos deram os Espíritos; a maior parte delas foi escrita sob nossas vistas, outras foram tiradas de comunicações que nos foram remetidas por correspondentes ou que colhemos aqui e ali, onde estivemos fazendo estudos. Os primeiros médiuns que concorreram para o nosso trabalho foram as senhoritas Baudin. Mais tarde os Espíritos recomendaram uma revisão completa em sessões particulares, tendo-se feito, então, todas as adições e correções julgadas necessárias. Esta parte essencial do trabalho foi feita com o concurso da senhorita Japhet.

Mundo Espírita – E assim nasceu O Livro dos Espíritos?
Allan Kardec– Da comparação e da fusão de todas as respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes retocadas no silêncio da meditação, foi que elaborei a primeira edição de O Livro dos Espíritos, entregue à publicidade em 18 de abril de 1857.

Obs.: Os textos aqui apresentados como respostas de Allan Kardec, foram extraídos dos livros:

1. KARDEC, Allan. A minha primeira iniciação no espiritismo.
In:___. Obras póstumas. 29. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, [199-]. pt. 2.
2. REVISTA ESPÍRITA. São Paulo: LAKE, 1858. p. 34.3. REVISTA ESPÍRITA. São Paulo: LAKE, 1858. p. 68.
As perguntas foram compostas pela redação do jornal.

sábado, março 03, 2007

Dia de Carlinhos


Hoje é dia 03 de março, dia em que Carlinhos, meu irmão Carlos Vítor Mussa Tavares nasceu. Faria hoje 51 anos.

Já contei a todos que Carlinhos é o mesmo Lill, que se fez filho espiritual de Nina Arueira e que escrevia para Papai, quando de sua conversão ao Evangelho, abandonando a luta de classes.

Contei também que Lill era o pequeno marinheiro, que foi a forma de vivenciar a primeira fase do Curso de Humildade, antes de reencarnar, isto é tornando-se criança ainda no plano espiritual. Fazendo isso, deixou de viver as personalidades que antes lhe conduziram à fama e à glória terrenas como Marco Polo, Cristóvão Colombo, Bartolomeu Lourenço de Gusmão, Joseph Montgolfier e Santos Dumont.

Viveu depois, 17 anos internado no corpinho enfermo de Carlinhos, tendo por Mãe a nossa querida Mãe Hilda e por Pai, o nosso amado Pai Clóvis. Esta foi a segunda etapa do Curso de Humildade.

A seguir, desencarna e continua criança na vida espiritual. Os antigos amigos do tempo de glória não reencontram o homem, mas percebem que ele agora era uma simples jovem querendo apenas amar. Esta foi a terceira etapa do Curso de Humildade. Esta etapa é ad aeternum. É uma conquista da alma, é um atributo do espírito, é inalienável, é um azeite divino que não se dá, não se empresta e não se vende... é patrimônio indestrutível e intransferível. Estas reflexões fazem parte de um livro que traz oito mensagens enviadas por Carlinhos a nós, captadas pela sensibilidade psíquica de nosso amigo Chico Xavier. Sim, Carlinhos escreveu em versos suaspróprias emoções vivenciadas na terra e após sua libertação do veículo carnal. Este livro é um livro que Papai gostaria de ter escrito, mas que infelizmente não escreveu. "A Morte É Simples Mudança", título escolhido por Clóvis Tavares, meu Pai. É uma expressão empregada diversas vezes por Carlinhos em suas cartas-poema e pinçada pela sensibilidade de Papai como a mais perfeita para sintetizar o tema do livro de meu Irmão. Leiam A Morte é Simples Mudança. Divulguem, estudem, amem, pois ali está muito mais que um repositório de cartas de um morto, mas uma bênção espiritual.


A Morte é Simples Mudança...



Que Carlinhos, vivenciando hoje uma outra natureza de Glória, que é a espiritual, possa na companhia de Papai, velar por nós outros que aqui quedamos, na companhia de nossa amada Mãezinha, na Escola Jesus Cristo, na comunhão com os amigos da Terra que hoje participam deste espiritual banquete de seu aniversário.

Um beijo do mano,

Flávio

POEMA DE NATAL de Luís Alberto Mussa Tavares

Poema de Natal

Adaptação para estilo poético da "Oração de Natal" do volume "Um poema para o Natal", publicado em 2005 pela Editora Scortecci.

I
Recorda a Humanidade, neste dia
Os fatos que cercaram tua chegada:
O Anjo anunciando-te à Maria,
José quando acolheu a sua amada

De Nazaré a Belém, tua romaria,
Onde não havia vaga na pousada,
O teu nascimento numa estrebaria,
A manjedoura, tua primeira morada...

Recorda a Humanidade, entre louvores,
Os Anjos anunciando-te aos pastores,
Os magos e Herodes, a adoração e o medo...

Recorda a Humanidade nessa hora
Os primeiros movimentos da tua estória
Imensa e encantadora desde cedo...

II
Desde aqueles dias
Já se vão dois mil anos...
Do mesmo modo
Como os pastores,
Aqui estamos...
Soubemos da Boa Nova
E aqui viemos
Como fizeram os pastores
Há dois mil anos...
E, como os pastores,
Nós nos sabemos
Simples seres humanos,
Nada possuímos
Nem trazemos,
Como os pastores
Há dois mil anos...
Não viemos,
Como os pastores,
Tão logo e assim que soubemos...
Nós nos atrasamos...
Mas aqui estamos
Na tua presença e,
Por tão pequenos,
Silenciamos...
E assim, orando,
Nós nos ajoelhamos,
Como os pastores
Nós nos alegramos,
Como os pastores
Há dois mil anos...

III
E aqui estamos de mãos vazias...
O que intencionávamos trazer perdemos
Com companhias, com teorias,
Com coisas que valiam menos...

E aqui estamos. Não trazemos nada.
O que tínhamos ficou pelo caminho.
Nós nos dispersamos pela caminhada
E caminhamos em desalinho...

E aqui estamos. Nada trazemos.
Nem mirra, nem ouro e nem incenso...
Pelo caminho nós os perdemos
E nos restou esse vazio imenso...

E aqui estamos. Nós nos dispersamos.
Nós nos atrasamos. Mas aqui viemos.
Já se passaram mais de dois mil anos
E ainda não aprendemos...

Aqui estamos. Ajoelhados.
De mãos vazias. Em pensamento.
Aqui estamos, muito cansados,
Diante do teu nascimento.

IV
O ouro que traríamos,
Valioso,
Peça imponente,
Belíssima cor,
Recebeu tantas ofertas
Nesses dias
Que o trocamos
Sem nenhum pudor
Por bugigangas,
Quinquilharias,
Sem garantias,
Coisas sem valor:
Bijouterias,
Peças sem valia,
Pedras sem brilho
E sem nenhum teor...
Gastamos todo
Com ninharias,
Trocamos,
Demos
E esquecemos
De repor...
Hoje não temos
Mais do que a lembrança
Do que já tivemos
E, alem disso,
Dor...
E porque gastamos,
E porque perdemos,
Comportamo-nos
Como o mau pastor
Que se descuida
Do que seria
Para cuidar
Como bom cuidador...
Aqui estamos
De mãos vazias,
Nada mais temos,
Nada nos restou...
De mãos vazias
Aqui estamos...
Vazios
Na presença
Do Senhor...

V
O aroma leve de um suave incenso
Nós preparamos para trazer.
Aspecto doce, odor delicado,
Especificamente preparado
Para o menino que viemos ver.

Foi quando ate aqui, pelo caminho,
Outros aromas doces conhecemos,
Por outros cheiros nos atraímos,
Outras essências sentimos,
Outras fragrâncias colhemos

E o aroma leve do incenso suave
Que preparamos foi se perdendo
E como a água quando escorre pelo ralo
Já não nos é possível agora identificá-lo...
_O que é que andamos fazendo?

Por outros cheiros nos seduzimos,
Outros perfumes vulgares,
Azedos, acres, fáceis, sedutores,
Odores oferecidos, maus odores,
Dezenas e centenas e milhares...

E assim o símbolo de tua espiritualidade
Contaminamos em nossa caminhada...
Estúpidos condutores, e descuidados,
E incautos, fomos contaminados
E hoje trazemos a alma infectada...

E o aroma suave do incenso doce
Já não possuímos nesse momento...
Envolve-nos, Senhor, com tua essência,
Ajoelhados, na tua presença,
Reverenciando teu nascimento...

VI
A mirra, preparamos com carinho
E embalamos cuidadosamente...
O sofrimento é parte do caminho...
A dor é sempre presente...

Mas dono de um cuidado tão mesquinho,
De um jeito tão displicente,
Bastou o primeiro copo de vinho
E o primeiro gole amargo de aguardente

E a mirra a derramamos e a perdemos,
A dor embriagada dói bem menos...
Desrespeitamos teu sofrimento...

E hoje aqui, não mais tão embriagados,
Postamos-nos diante de ti, ajoelhados,
Diante do teu nascimento...


VII
Submersos em trevas e isolados,
Por desacertos nos conduzimos...
Enfraquecidos, tolos, derrotados
Que a nós mesmos nos destruímos...

A sombra, como semente alimentada,
Cresceu e se espalhou, erva daninha...
A Humanidade quedou-se, acinzentada,
Perdeu o rumo, perdeu a linha...

O desafeto e o desamor, unidos,
Tornaram-se gestos diários
Que os homens fracos e os distraídos
Trataram como comportamentos necessários...

E assim, do desamor nasceram a usura,
A ira torpe, a falta de perdão,
O ódio entre a criatura e a criatura
E a rudeza do coração...

Mísseis cruzando os céus, caças insanos,
Botões dizimando nações sem piedade,
Homens selvagens, seres humanos
Vestidos de pura bestialidade...

A morte provocada pela guerra,
O lucro à custa da crueldade,
A sombra assustadora sobre a Terra
Ameaçando a Humanidade...

Flagelo. Fome. Miséria. Medo.
Terror. Suspeita. Desamparo. Dor.
O homem que vive entre feras desde cedo
Fica contaminado por esse horror.

A que chegamos... Não sobrou nada.
Nenhuma luz. Só ódio. Só discórdia.
E uma Humanidade necessitada
Da tua infinita Misericórdia.

E longe dela, ai de nós pelo que somos.
Pelo caminho ruim que caminhamos.
Pelo que fizemos. Pelo que fomos
E pelo muito que erramos.

Longe da tua Misericórdia, nada.
Ranger de dentes. Choro. Fome. Frio.
A tua Misericórdia é a luz da nossa estrada,
Cesto de peixe que nunca está vazio...

Aqui estamos, pois. Muito cansados.
Já não suportamos tanto sofrimento.
Aqui estamos, ajoelhados,
Diante do teu nascimento.

VIII
Mas é Natal, e assim,
Ecos dos Anjos
Ainda fazem-se ouvir
Em seu Louvor...
Ecos que anunciam
A Boa Nova:
_Eis que hoje vos nasceu
O Salvador.

Eis que é Natal.
E as vozes dos Anjos vibram.
Cânticos de Anjos
Em Legião
Dizendo:
¬_Hosana... Nasceu Jesus,
Alegrai, pois,
Vosso coração...

Eis que é Natal
E, por ai, pastores
Ainda se alegram
Com a anunciação...
Vibram e falam
Uns para os outros,
E alguns se postam
Em oração...

Que delicado
O cântico dos Anjos,
Escuta-se ao longe
Um trecho seu:
_Gloria a Deus nas alturas
E paz na Terra...
Jesus nasceu...

Santificada essa Boa Nova,
Iluminada essa hora
Como a esperança que se renova:
Toda alegria
Ao mesmo tempo
Agora...

É terna e pura a luz da tua estrela,
Silenciosa e serena,
E vê quem tem olhos de ver seu brilho,
Como quem entende um poema...

Acolhedora a tua manjedoura,
Tão pouco e ao mesmo tempo tanto, tanto...
Impressionantemente acolhedora
Como se fosse seu manto...

Suave e belo o significado
Da tua mensagem de amor,
Ao mesmo tempo imenso, delicado
E inexplicavelmente acolhedor...

Simples pastores por companhia,
Delicadeza, naturalidade...
De onde trouxeram tanta alegria
E tanta felicidade?

E a musica que cantam, como um coro
De varias vozes e grande harmonia,
Como quem cuida um tesouro,
Como se fossem os próprios Jose e Maria?

A musica que cantam... Que serena...
Retalhos inteiros feitos de paz...
Encantador recordar esta cena
Dos seus primeiros Natais...

E a gruta acolhedora, teu resguardo...
A manjedoura... Nenhuma ostentação...
Nem luz, nem brilho e, no entanto, nenhum fardo...
Nenhuma pena... Nenhum senão...

A gruta, feita de simplicidade...
Nenhum Palácio significa tanto...
Não há vestígios de suntuosidade,
Há, sim, sinais de que é um lugar santo...
IX
E dois mil longos anos se passaram...
Aqueles que, como nós, te conheceram,
Durante esse tempo se desviaram
E após tantos desvios se perderam...

E em dois mil longos anos que afastaram
Da tua presença os que viram e não creram,
Multiplicaram-se os que te negaram,
Espalharam-se os que não te receberam...

E dois mil anos não foram bastante
Para que nós chegássemos aqui diante
De ti como em outra época Simeão...

Os nossos olhos, endurecidos,
Envoltos em trevas, escurecidos,
Ainda não compreenderam a tua lição...

X
Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo,
Caminho, verdade, vida,
Recebe nossa alma vazia nessa hora,
Pela tua Misericórdia, estremecida...

E permanece nosso pensamento assim:
Magnificado e em lagrimas submergido...
Deixamos lá fora as sandálias, o pó ruim,
Trazemos o pensamento enternecido,

Exatasiado com tua singeleza,
Complexa, imensa e cheia de verdade,
Admirados com a força gigantesca
Da tua aparente fragilidade...

Trazemos, humilhado,
O coração cansado,
Trazemos, destruído,
O coração sofrido,
Trazemos, derrotado,
O coração errado,
Trazemos, combalido,
O coração doído...

XI
Insufla nossa boca
Com teu sopro santo,
Fazendo-a cheia
Das palavras de Simeão:
Podemos partir,
Desde agora,
Porque nossos olhos
Viram
A salvação...

XII
Senhor Jesus,
Feliz Natal.
Nos Céus
Os Anjos
Dizem:
_Amém...
Cantando:
_Glória a Deus nas alturas
E Paz na Terra
Aos homens
A quem ele quer bem...

Que assim seja...