quarta-feira, abril 04, 2007

A A R R O G Â N C I A DOS M A U S




Clamam, porém Ele não responde
Por causa da arrogância dos maus.
Jó 35:12



O texto de Jó, afirma que Deus não responde aos que clamam por ele, por causa de sua arrogância.

Temos assim três categorias: o clamor, o silêncio de Deus e a arrogância.

Em primeiro lugar há que se considerar o clamor. Que é clamar?. Segundo Houaiss, em uma de suas acepções é: “rogo ou queixa proferida em altas vozes”.

Seria errado clamar a Deus? Diz o profeta Isaias no início do capítulo 58: "Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta...". Isso nos leva a reconhecer que é justo clamar a Deus, pois ele nos conhece até o mais profundo de nossa alma, ele nos perscruta os sentimentos, como diz Davi: “ Senhor, tu me sondas, e me conheces.” (Sl 139:1). Se Ele vasculha nosso interior e conhece nossa angústia, há de nos encorajar em nosso clamor, pois nesse momento estamos sendo sinceros.

O tom da voz daquele que fala a Deus está muitas vezes na medida da angústia. A expressão “clamar” é empregada muitas vezes no contexto de um grande sofrimento seguido de um desesperado pedido de socorro. O Rei Davi canta em seu salmo: “Então clamaram ao Senhor na sua angústia, e os livrou das suas dificuldades. ”Salmo 107.13

Por que então ocorre o silêncio de Deus, descrito por Jó? Alguns versos bíblicos revelam esta possibilidade de nosso clamor ser ignorado por Deus:

1- Então naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvirá naquele dia.( I Samuel 8.18): Nossas escolhas são livres e após determinadas opções é necessário que se sofra o efeito gerado pela nossa livre escolha. E o intuitivo texto é claro: “nesse dia, ele não nos ouvirá, pois é dia da reação necessária.

2- Clamaram, mas não houve quem os livrasse; até ao Senhor, mas ele não lhes respondeu.( Salmos 18.41);
Estou cansado de clamar; a minha garganta se secou; os meus olhos desfalecem esperando o meu Deus. (Salmos 69.3); Então clamarão a mim, mas eu não responderei; de madrugada me buscarão, porém não me acharão. (Provérbios 1.28) :
Esses três versículos são também demonstrações de segunda vista de Davi e de seu filho Salomão. A resposta às orações parecem não acontecer pois muitas vezes pedimos de modo errado, como ensinou S. Agostinho: Petimus mala.
No salmo 18, observa-se a resultante de uma ação voluntária, a reação é necessária e provavelmente a ajuda espiritual virá para o nosso socorri, para a nossa capacidade de suportação, mas não para nos livrar das responsabilidades.

No salmo 69, existe a prova da paciência. Nós temos que aprender a esperar e a perseverar. Quantas vidas temos desperdiçado bênçãos espirituais ofertadas com fartura. Tempo, espaço, recursos financeiros, saúde, conhecimento, suporte familiar, ambiente social favorável, religião...É necessário então, que os nossos amigos da espiritualidade que velam por nossa felicidade, nos promovam uma vida de espera, de paciência, de dificuldade, para que registremos em nossa alma as reações que ainda não nos são conhecidas. Aprender a Esperança é um exercício da alma. Só se aprende vivendo.
E quanto ao texto dos Provérbios, trata da busca em hora errada, tardia. Existem coisas que só podem ser obtidas em momentos determinados. Existe uma hora de aprender e uma hora de sermos testados. Não se pode pedir explicação a professora na hora da prova. Ela é professora, mas aquela hora é de teste, de provação.

Outro ponto, também registrado por S. Agostinho é o de nós pedirmos para nós, sendo irredutíveis e incomplacentes com o próximo. Petimus mali, é o que pede sendo mau em seu interior. Pede, mas sem humildade, pede, mas pede com egoísmo, quer para si, não divide, não tem compassividade, não sabe esperar, não sabe reconhecer que é igual aos demais. O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, ele mesmo também clamará e não será ouvido. (Provérbios 21.13)

Mesmo as orações intercessórias podem ser em momento indevido. Muitas pessoas que recebem orações não estão no momento certo para receber a ajuda. Alguams orações podem ser inclusive, segundo nos revela André Luiz, em Obreiros da Vida Eterna, refratadas, isto é redirecionadas para outras pessoas em estado real de necessidade e que não receberam orações intercessórias. A justiça de Deus é perfeita e nenhuma energia se perde. Por isso diz o profeta Jeremias:

Tu, pois, não ores por este povo, nem levantes por ele clamor nem oração; porque não os ouvirei no tempo em que eles clamarem a mim, por causa do seu mal. (Jeremias 11.14)

O silêncio espiritual é uma possibilidade razoável.
Não pode haver resposta para o que não quer escutar a verdade. A arrogância é a prepotência. Um homem prepotente considera que tem força e poder suficiente para se bastar. Por que então pede? Por alguma forma de hipocrisia. O arrogante é vaidoso, não pode descer de seu trono de glória para fazer uma súplica e se faz é puramente um teatro. A arrogância ainda mescla o egoísmo e a hipertrofia do ego. Não pode ver nenhuma barreira ao seu objetivo, considera-se importante demais. É daqueles que gosta de dizer: “Você sabe com quem está falando?” ou “Eu tenho um nome a zelar”. O elevado conceito que tem de si mesmo, associado a um desprezo pelos demais impede qualquer forma de diálogo com as forças espirituais.

O espírito auto-centrado não recebe resposta ao clamor, que pode provavelmente ser um clamor teatral, nada ressonante aos ouvido de Deus.O orgulho introduz um ruído intransponível na comunicação entre o ser humano e Deus. Este silêncio de Deus exposto no texto de Jó : “Clamam, mas Ele não responde por causa da arrogância dos maus”, refere-se também a uma impossibilidade real de que os altos planos da criação ouçam os reclamos dos que já se consideram portadores de poder autônomo. Pedir é antes de tudo um ato de humildade.
Escutar um pedido é a sintonia da humildade de quem pede com a bondade de quem escuta. A falta de um dos fatores aborta a comunicação. O prepotente não é afeto a pedir por que não se acha em necessidade.
O seu clamor é apenas ritualístico, mostruário da vitrine das religiões vazias. A arrogância, filha dileta do Orgulho é um estado de alma que reproduz um momento metafísico dos anjos decaídos, que impossibilitados de serem os portadores de todo o poder de Deus, rebelaram-se contra a Criação, criando um motim que teria resultado o nosso universo físico, segundo as concepções ubaldianas.
Longe de ser uma contradição ao conceito doutrinário da criação “simples e ignorante”, o conceito ubaldiano da “queda” introduz um forte componente de responsabilidade espiritual de todos nós, tornamo-nos simples e ignorantes por livre escolha e é necessário que resgatemos através de nossas vidas sucessivas a nossa condição inicial .
Clamar verdadeiramente e com fé , é um último ato de nossa indigência espiritual, de seres que já vestimos a veste de filhos e que hoje descemos ao nível sub-humano de guardadores de porcos. Purifiquemo-nos para que o nosso clamor seja escutado e que sejamos justificados.

Um comentário:

Juliana Tavares disse...

Oi, pai!
Interessante essa reflexão, já que as pessoas costumam se queixar de Deus quando não são atendidas em seus desejos imediatos e muitas vezes mesquinhos...
Um abraço!